#Dramaépico #CinemaDinamarquês
Filme indicado pela Dinamarca para o Oscar 2024
Exibido no Festival de Veneza 2023
Um lançamento de Pandora filmes
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O Bastardo (Bastarden, 2024), uma das melhores estreias de setembro, traz o excepcional Mads Mikkelsen como o capitão Ludvig Kahlen, herói de guerra na Dinamarca do século XVIII, determinado a reconstruir sua vida em Jutlândia, uma terra selvagem e ameaçada pelo poder do cruel Frederick De Schinkel (Simon Bennebjerg). Baseado no romance The Captain and Ann Barbara, de Ida Jesssen, o drama entrecruza os desejos e frustrações do protagonista com as ambições e poder de um nobre cruel e vaidoso.
Trata-se de um dos projetos mais existenciais do diretor e roteirista Nikolaj Arcel, realizador do excelente "O amante da Rainha" e que, por meio deste filme, comprova que tem habilidade para criar uma atmosfera de conflitos entre os elementos da nobreza e do povo. Em O Bastardo, a criação do roteiro economiza mais em palavras e instala uma dramaturgia bastante visual que extrai as virtudes do talento e da experiência de Mads Mikkelsen em uma interpretação atemporal e crível.
Seu personagem Ludvig Kahlen carrega a lealdade daqueles heróis que servem os reis por anos, honrando o compromisso com a Coroa. Porém, o que resta depois dos feitos gloriosos? A realeza oferece gratidão aos heróis da guerra? O drama reafirma que não e esta perspectiva se destaca como uma das mais honestas na concepção da historia.
Ainda que tenha uma personalidade mais racional, Ludvig busca esperança em uma terra que tem fama de infértil e inóspita. Retornar a uma "casa" significa construir um lar para si e para outros colonos que podem tornar esta terra produtiva e acolhedora. Desta forma, ser um bastardo, aquele ser que não é reconhecido no sangue que corre em suas veias, significa recuperar mais do que um título. Diz respeito a um tipo de justiça social, uma dignidade necessária e merecida.
Nesta missão, Ludvig não está sozinho. Conhece outras pessoas à margem da sociedade que são maltratadas por essa nobreza vazia e ignorante. São três mulheres fortes que lhe ajudam a despertar a sensibilidade: Ann Barbara (Amanda Collin) , Edel Helene (Kristine Thorp) e Anmai Mus (Melina Hagberg). Cada uma delas vem de origens e histórias bem diferentes e, em pontos essenciais do drama, revelam a autenticidade, generosidade e liberdade precisas para continuar suas vidas e serem um alicerce para Ludvig, mesmo que circunstancial.
Nikolaj Arcel reúne todos estes elementos para compor um drama épico que vence pela perseverança daqueles que não desistem de lutar, mas que, mais cedo ou tarde, terão que lidar com as frustrações que também representam traumas violentos da existência. De certa forma, não há como passar inerte às perdas, despedidas e dores. Como um faroeste contemporâneo que revela as violências diárias e a solidão inevitável, O Bastardo pode ser considerado uma metáfora do lugar de honra que queremos no mundo, mas que nem sempre ele é alcançado. Como diz o próprio diretor: "Fazemos planos e Deus ri".
Nesta trajetória épica, Ludvig tem um arco dramático de excelência, bem mensurado que evolui nas emoções e mudanças de seu personagem e entrega à audiência um desempenho incrível. As expressões faciais e silêncios de Mads Mikkelsen são Cinema de primeira grandeza e sustentam um drama imperdível.
Créditos imagens: Henrik Ohsten, Zentropa, gentilmente cedidas por assessoria Sinny como divulgação do lançamento.




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Cristiane Costa, MaDame Lumière