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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Uma das potentes vias do terror no Cinema é o exorcismo que, baseado no sobrenatural e ação contra o mal, mais precisamente no combate à possessão por demônios, ganhou fãs desde o clássico O Exorcista (The Exorcist, 1973) dirigido por William Friedkin. Se por um lado, o tema desperta a curiosidade e a recepção, transitando entre a crença e a incredulidade de muitos, por outro lado, o subgênero apresenta desafios muito inerentes à sua característica, os chamados clichês do gênero. Aqui eles não deixam de marcar presença por meio de corpos possuídos por feições endemoniadas, vozes estranhas e em movimentos perturbadores.
O Exorcista do Papa (The Pope's Exorcist, 2023) cai naturalmente nesses clichês e, mesmo com a presença do querido Russell Crowe, a expulsão de demônios se esgota no esforço dos efeitos visuais. A diferença é que, tendo como base que foi inspirado nos relatos do exorcista chefe do Vaticano, Padre Gabriele Amorth, falecido em 2016, o longa-metragem merecia um melhor desenvolvimento, inclusive na narrativa, curiosidades e experiências da vida pregressa do padre.
Na forma como o filme foi roteirizado, Russell Crowe faz o papel de Amorth, um sobrenome bem sugerido, por coincidência ou não, já que lembra sonoramente "A Morte". Como toda função de um exorcista, o Padre é homem de confiança do maior bispo existente na Igreja Católica, o Papa. À serviço de Roma e da Igreja, o compromisso de Gabriele Amorth é genuinamente dar consciência de que o mal existe e deve ser combatido como exercício contínuo da fé.
Com fundamento nesse forte compromisso, ainda que seja apenas um filme, teoricamente haveria matéria de trabalho, ou seja, muito conteúdo a ser explorado considerando que Amorth era conhecido por ter realizado mais de 100 mil exorcismos; entretanto, o roteiro se reserva ao padre expulsar o demônio mais poderoso que se apoderou do corpo de um garoto. Em determinado avanço da narrativa, o espectador descobre o porquê esse demônio representa um mal ocultado pela igreja católica e, é exatamente nesse momento que o filme confirma que a escolha dos roteiristas foi ser breve e superficial.
Tirando mais a lupa e olhando a entrega global do filme, não é uma má experiência, apenas um entretenimento rápido que contou com bom uso visual dos clichês. Como Amorth escreveu vários livros, entre eles, "Um exorcista conta-nos" e "Novos relatos de um exorcista", que serviram como inspiração para o longa, nota-se uma perda de oportunidade de aprofundar a sabedoria de Amorth no desenvolvimento narrativo. Tal constatação também faz refletir se houve algum impeditivo do Vaticano e/ou da família do padre, respectivamente, de natureza política e emocional, que possa ter interferido na adaptação do filme.
Russell Crowe não teve muito o que fazer a não ser agir profissionalmente com as ferramentas que lhe foram dadas. Ele é divertido com momentos mais leves como andar com sua Vespa pela bela Itália, beber seu whisky escondido na batina e fazer piadas jocosas como o tio do churrasco. Vê-lo em um papel de exorcista mostra que ele tem a versatilidade para ser um padre e um gladiador e é uma presença bem vida aos cinéfilos.
Ao fim, se há algum aprendizado na história, podemos afirmar que o maligno não está apenas nas dimensões do sobrenatural, mas ele jaz aqui mesmo na terra, na natureza humana e seu dia a dia. Nesse sentido, qualquer filme sobre exorcismo não deve ser subestimado em sua mensagem. Muito além dos sustos e seus previsíveis clichês, filmes de exorcismo nos fazem lembrar que, de fato, o mal existe. Cada um de nós pode combatê-lo pois temos o livre arbítrio de escolher e cultivar o bem.
Imagens : uma cortesia Sony pictures para divulgação de filmes em veículos de comunicação.
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