MaDame Lumière

Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

  #Remake #Horrorpsicológico #Terror #Suspense #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Ansiedade #Psicopatia #JamesMcAvoy Imperdível e perturbad...

 




#Remake #Horrorpsicológico #Terror #Suspense #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Ansiedade #Psicopatia #JamesMcAvoy

Imperdível e perturbador!



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 



É normal ouvir no cotidiano que há pessoas que têm aversão a receber visitas em suas casas, entretanto, também não é confortável ser uma visita nos dias atuais. Adentrar a casa de alguém pode ser muito agradável como um jantar com vinho entre amigos, mas também, nunca sabemos exatamente as intenções das pessoas, ainda mais as que acabamos de conhecer e/ou temos colegas em comum. O lamentável é que, com os desequilíbrios sociais da vida contemporânea, a socialização tem sido desafiadora e perturbadora.



Considerando as dificuldades da socialização, o ser humano tem atravessado uma série de incômodos naturais como a desconfiança e o medo de lidar com o outro. Com somos seres biopsicossociais, é esperado que haja interação em nossas vidas cotidianas mesmo que isso provoque certa preguiça em conviver com pessoas aborrecedoras. Mas, quais são os riscos de se permitir uma maior intimidade com o outro?  Até qual nível de abertura podemos confiar nas pessoas?






Tendo em vista a perspectiva acima, o terror social tem sido uma excelente estratégia do horror psicológico que, quando bem trabalhado em um filme, nos faz refletir sobre os riscos e limites da socialização. Ainda que levado a um patamar severo de periculosidade na ação dos sujeitos, esse tipo de abordagem traz elementos que mesclam o suspense, o horror e o humor, uma combinação assustadora que tira o público de um lugar mais fantasioso e fundamenta uma relação essencial com nossos piores medos e ansiedades. E no geral, o maior medo que deveríamos ter é lidar com o outro, já que pessoas são imprevisíveis.



Em Não Fale o Mal (Speak no Evil, 2024), remake Americano com roteiro e direção de James Watkins e protagonizado pelo talentoso James McAvoy, temos à frente um filme assustador que extrapola a manipulação social  de um casal anfitrião e tudo de mal que eles têm de oculto, colocando um casal Americano e sua filha em uma espiral de perigo, medo e morte.



Após se conhecerem em uma viagem de férias, Paddy e Ciara (James McAvoy e Aisling Franciosi) acompanhados com o filho Ant (Dan Hough) convidam Louise e Ben (Mackenzie Davis e Scoot McNairy) e sua filha Agnes (Alix West Lefler) para uma temporada em uma casa de campo nas montanhas. Como a maioria das primeiras interações em uma bela viagem, todos estavam abertos a conhecer o novo, lugares e pessoas, situação favorável para que Paddy, mais expansivo e sedutor, causasse uma impressão de simpatia, mesmo sendo exagerado. Logo mais, como Louise e Ben estavam atravessando uma crise conjugal e entediados com seu dia a dia, decidiram aceitar o convite.






É interessante notar a apresentação do  personagem de James McAvoy pois antecipa que, a maioria dos sociopatas, são bastante comunicativos e atraentes, a famosa "ter lábia e mel" para atrair suas vítimas. Como dono da família, somado ao fato do ator ter muito talento e experiência com personagens complexos, disfuncionais e perturbadores, ele vai demonstrando nuances comportamentais tóxicas que transitam entre o exagero, o mistério e a inconveniência, o que dá indícios de que não é confiável e transformará a vida das visitas em um traumatizante pesadelo.






O filme ganha bastante qualidade nas situações inconvenientes que deixam os hóspedes muito desconfortáveis, considerando que os tiram de uma zona de conforto do que é politicamente aceitável em interações sociais. Mesmo que cada pessoa tenha sua moralidade, no caso de Paddy, ele tem duas funções importantes no roteiro: atração e repulsa. Ao mesmo tempo que, Ben, por exemplo, se sente atraído pelo estilo vívido e audacioso de Paddy, por outro lado, Louise apresenta maior rejeição ao comportamento do anfitrião. Dessa forma, McAvoy tem um papel chave que sustenta e qualifica toda a narrativa.



Como surpresas boas acontecem em um excelente horror psicológico, principalmente quando teve investimento da Blumhouse, produtora expert em filmes desse gênero e com olho clínico para ter um elenco de primeira grandeza; a presença de Mackenzie Davis agrega muita qualidade dramatúrgica ao convívio entre casais e para criar tensões nos conflitos. Além de ela ter papel essencial nas cenas de ação violenta, em um papel de superação da mãe que faz de tudo para defender a família, Louise tem uma liderança natural na história, fazendo o contraponto com Paddy. Ainda que tomada pelo medo em diversas circunstâncias, é a personagem que ressalta o mal estar em permanecer ali e que enfrenta Paddy mais abertamente.







Com isso, ao lado de James McAvoy e Mackenzie Davis, o mal estar é um dos principais personagens de Não Fale o Mal. Ele surge em diversas cenas e, de maneira muito interessante, pode ser interpretado como algo que gera silenciamento e/ou dificuldades em como se expressar diante de uma situação incômoda. Assim, como superar o mal estar ao lidar e enfrentar o outro violento? Calar-se? Tentar o diálogo? Agir com a mesma violência? Nas cenas de finalização, entendemos melhor isso por meio da ação de Ant, uma criança ferida e traumatizada pela violência. 



De fato, para nós, como seres sociais, como reagir diante da violência, seja ela física, psicológica, social, traz um mal estar seguido de um instinto de sobrevivência, afinal, somos seres naturalmente violentos mas não queremos interagir com o Mal porque ele mostra o pior espelho da humanidade. 






Fotos: uma cortesia autorizada Universal pictures e assessoria para divulgação e crítica do filme.

  #CinemaBrasileiro #Drama #Saúdemental #Depressão #adolescência #Juventudes Um lançamento da Gullane+ Por  Cristiane Costa ,  Editora e blo...

 





#CinemaBrasileiro #Drama #Saúdemental #Depressão #adolescência #Juventudes

Um lançamento da Gullane+



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 



Há filmes que geram mal estar por abordarem temas que são caros à sociedade e normalmente difíceis de compreender ao gerar o luto e a dor. Quando eles narram histórias de jovens que perdem suas próprias vidas, entram em um lugar muito precioso que diz respeito à reflexão e ao debate sobre a saúde mental e a prevenção ao suicídio.






"Essa é minha obra mais autoral, na qual tive a oportunidade de mergulhar nas minhas dores da adolescência e compreender como essas mesmas dores ressoam nos jovens de hoje" (Cineasta Caroline Fioratti, sobre seu terceiro longa)




Dentro desta perspectiva, a diretora Brasileira Caroline Fioratti realiza em Meu Casulo de Drywall, um trabalho interessante que percorre a temática do adoecimento moderno dos jovens em uma cinematografia que mescla elementos do horror e do drama. É um trabalho audacioso que tem uma tônica de experimentação e introspecção; assim que nem todos os diálogos são óbvios e compreensíveis, deixando ao público o benefício de tentar entender o que estes adolescentes dizem, como se sentem e se comportam. 



Protagonizado pela estreante Bella Piero como Virginia, o longa discorre sobre a tragédia ocorrida no aniversário de 17 anos da adolescente, logo o público é imediatamente inserido no drama fatal: O que terá acontecido com Virginia? Por que está tão depressiva em sua festa? Por que sua pele está tão machucada? Além da jovem atriz, o elenco traz a veterana Maria Luisa Mendonça, como sua mãe, Caco Ciocler como seu pai,  e outros jovens interpretados por Michel Joelsas, Daniel Botelho e Mari Oliveira







De fato, compreender os jovens é um dos maiores desafios contemporâneos. Como compreender as angústias das juventudes? Como ajudá-los? É possível superar estes diálogos entre gerações e intergeracional? O filme explora diversas emoções, do desespero à culpa dos jovens e adultos em cena,  e permite que o espectador perceba que nem todas as respostas estão ali mas que essa é uma realidade e responsabilidade coletiva. 



Por meio das cenas com pais autoritários, mães sofridas, amigos em fuga, todos, em maior ou menor grau, estão desprovidos de qualquer compreensão e parecem igualmente perdidos em suas existências; de certa forma, essas são incógnitas comuns no cotidiano que talvez nunca sejam respondidas na sua totalidade. Entretanto, cabe um ponto prioritário de atenção: saúde mental é vital em qualquer idade! Jamais um jovem será curado em um lar doente ou ao lado de adultos adoecidos e/ou negligentes.








Muito mais do que um drama de condomínio, cenário de "casulo" que tem sido habitual em algumas produções audiovisuais Brasileiras, além de ambiente de uma vida cada vez mais enclausurada para jovens e crianças mais abastadas, Meu Casulo de Drywall tem seu teor autoral ao trabalhar com elementos estéticos que saem do lugar comum no Cinema Nacional, uma escolha diferenciada da cineasta, criando uma atmosfera de suspense e horror com dramas pessoais e introspectivos. Não é um filme palatável como a própria complexidade temática que o permeia, mas que pode ser explorado como meio realista de mediação e amadurecimento.



É importante frisar que, furar a bolha dos lugares e privilégios sociais não é uma tarefa fácil, assim como tem sido difícil lidar com as várias bolhas sociais cujas pessoas presentes nelas estão cada vez mais entorpecidas sem o senso coletivo da humanização. Neste sentido, o filme vem a oferecer um momento cinematográfico para refletirmos sobre o rompimento destas barreiras para jovens e adultos.









Crédito de fotos para produção, gentilmente cedidas pela assessoria Sinny para divulgação da crítica do filme.



  #Dramaépico #CinemaDinamarquês Filme indicado pela Dinamarca para o Oscar 2024 Exibido no Festival de Veneza 2023 Um lançamento de Pandora...

 



#Dramaépico #CinemaDinamarquês

Filme indicado pela Dinamarca para o Oscar 2024

Exibido no Festival de Veneza 2023

Um lançamento de Pandora filmes



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 


O Bastardo (Bastarden, 2024), uma das melhores estreias de setembro, traz o excepcional Mads Mikkelsen como o capitão Ludvig Kahlen, herói de guerra na Dinamarca do século XVIII, determinado a reconstruir sua vida em Jutlândia, uma terra selvagem e ameaçada pelo poder do cruel Frederick De Schinkel (Simon Bennebjerg). Baseado no romance The Captain and Ann Barbara, de Ida Jesssen, o drama entrecruza os desejos e frustrações do protagonista com as ambições e poder de um nobre cruel e vaidoso.



Trata-se de um dos projetos mais existenciais do diretor e roteirista Nikolaj Arcel, realizador do excelente "O amante da Rainha" e que, por meio deste filme, comprova que tem habilidade para criar uma atmosfera de conflitos entre os elementos da nobreza e do povo. Em O Bastardo, a criação do roteiro economiza mais em palavras e instala uma dramaturgia bastante visual que extrai as virtudes do talento e da experiência de Mads Mikkelsen em uma interpretação  atemporal e crível.






Seu personagem Ludvig Kahlen carrega a lealdade daqueles heróis que servem os reis por anos, honrando o compromisso com a Coroa. Porém, o que resta depois dos feitos gloriosos? A realeza oferece gratidão aos heróis da guerra? O drama reafirma que não e esta perspectiva se destaca como uma das mais honestas na concepção da historia.



Ainda que tenha uma personalidade mais racional, Ludvig busca esperança em uma terra que tem fama de infértil e inóspita. Retornar a uma "casa" significa construir um lar para si e para outros colonos que podem tornar esta terra produtiva e acolhedora. Desta forma, ser um bastardo, aquele ser que não é reconhecido no sangue que corre em suas veias, significa recuperar mais do que um título. Diz respeito a um tipo de justiça social, uma dignidade necessária e merecida.






Nesta missão, Ludvig não está sozinho. Conhece outras pessoas à margem da sociedade que são maltratadas por essa nobreza vazia e ignorante. São três mulheres fortes que lhe ajudam a despertar a sensibilidade: Ann Barbara (Amanda Collin) , Edel  Helene (Kristine Thorp) e  Anmai Mus (Melina Hagberg). Cada uma delas vem de origens e histórias bem diferentes e, em pontos essenciais do drama, revelam a autenticidade, generosidade e liberdade precisas para continuar suas vidas e serem um alicerce para Ludvig, mesmo que circunstancial.






Nikolaj Arcel reúne todos estes elementos para compor um drama épico que vence pela perseverança daqueles que não desistem de lutar, mas que, mais cedo ou tarde, terão que lidar com as frustrações que também representam traumas violentos da existência.  De certa forma, não há como passar inerte às perdas, despedidas e dores. Como um faroeste contemporâneo que revela as violências diárias e a solidão inevitável, O Bastardo pode ser considerado uma metáfora do lugar de honra que queremos no mundo, mas que nem sempre ele é alcançado. Como diz o próprio diretor: "Fazemos planos e Deus ri".



Nesta trajetória épica, Ludvig tem um arco dramático de excelência, bem mensurado que evolui nas emoções e mudanças de seu personagem e entrega à audiência um desempenho incrível. As expressões faciais e silêncios de Mads Mikkelsen são Cinema de primeira grandeza e sustentam um drama imperdível.






Créditos imagens: Henrik Ohsten, Zentropa, gentilmente cedidas por assessoria Sinny como divulgação do lançamento.

   #Comédia #Família #Diversidade #Streaming #CinemaFrancês Uma das novidades da  A2 Filmes Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crít...

 





 #Comédia #Família #Diversidade #Streaming #CinemaFrancês



Uma das novidades da A2 Filmes






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 





Não há mais nenhuma dúvida de que o Cinema Francês funciona bem na Cinefilia Brasileira, especialmente com o crescimento do Festival Varilux nos últimos anos e a presença massiva de comédias que se popularizaram na França. Entre elas, Que mal eu fiz a Deus?, dirigido por Philippe de Chauveron, conquistou apreciadores em todo o mundo ao trazer a diversidade familiar alinhada à realidade étnico-social da França. Como ponto de intersecção global, o diretor buscou tratar de temas universais como aceitação, tolerância, respeito, empatia e resolução de conflitos.









Devido ao sucesso do primeiro filme, o que não era uma franquia, tornou-se uma. O projeto ganhou peso com a colaboração dos atores no feedback do próprio roteiro e o sentido da França como lar. Considerando a perspectiva de que a França é mais multiétnica do que Francesa na atual conjuntura, mas ainda assim, conservando o bom humor Francês para a abordagem de uma complexa agenda de diversidade, pode-se dizer que o segundo filme buscou trazer novas problemáticas no seio da família de Claude e Marie Verneuil. O resultado fica dentro da média, porém inferior ao timing cômico, carisma e "novidade" do primeiro filme.




Desta vez, Claude (Christian Clavier) tem que lidar com as decisões matrimoniais de seus genros que desejam deixar a França, logo, a figura do sogro provinciano, invasivo e divertido mantém o alicerce humorístico do pai de família que fará de tudo para preservar todos por perto. Neste sentido, o experiente Clavier tem um papel importante ao lado da esposa (Chantal Lauby) com tiradas cômicas, às vezes tolas para sua senioridade como pais, porém carregadas com um misto de doçura, ingenuidade e desespero, assim, fazendo o contraponto com os diferentes estilos, origens  e ambições dos genros.









A família Koffi representa um núcleo familiar que se relaciona com os Verneuil como novo parentesco, agrega uma distinta camada de humor ao trazer o ator Pascal Nzonzi, outro sogro que, dadas suas raízes Africanas, mantem uma identidade pessoal estrangeira e única, mas também se aproxima de Claude ao representar o patriarca engraçado que quer controlar situações e as crias que não necessariamente serão controladas.




A continuação tende a agradar como um leve entretenimento se o espectador se desvencilhar da primeira parte e permanecer sem expectativas. Em grande parte do filme, Chauveron em parceria com Guy Laurent ainda forçam bastante diálogos para obter risos como retorno e as situações não são significativas o suficiente para sustentar um bom engajamento com a história. De fato, embora a comédia apresente as falhas dos personagens como um ativo irresistível do gênero e o elenco seja bem entrosado, a parte 2 busca criar situações muito mais ligadas à diversidade e ao valor da França para os estrangeiros.  A defasagem é que os diálogos e experiências não são convincentes e envolventes para um filme com tantos personagens.








No mais, o centro da comédia ainda é bastante focado nos personagens masculinos e muito pouco nos femininos, representando ainda uma lacuna narrativa em uma França na qual a diversidade de gênero é igualmente constante. Ainda que, neste filme, há abertura para abordar os afetos da mulher lésbica e da mulher da terceira idade, isso torna-se apenas mais um detalhe coadjuvante para a aceitação e não insere as perspectivas do elenco feminino de maneira equilibrada e participativa. Nesse aspecto, os roteiristas perderam a oportunidade de equilibrar os diferentes papeis de gênero.





  #Drama #Streaming #CinemaEuropeu #Imigração #Maternidade Uma das novidades da plataforma Supo Mungam Plus   Por  Cristiane Costa ,  Editor...

 






#Drama #Streaming #CinemaEuropeu #Imigração #Maternidade



Uma das novidades da plataforma Supo Mungam Plus 






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 





Continuamente o drama da imigração tem sido abordado nas produções Europeias sob diferentes perspectivas, tanto de gênero como raça, identidade e nacionalidade, fato que contribui para a denúncia das atrocidades vivenciadas por milhares de pessoas diante de uma intolerância sistemática e traz à superfície distintos absurdos historicamente construídos que, em grande parte, são desconhecidos da ampla audiência.





A parceria entre Miha Mazzini e Dusan Joksimovic em Apagada (Erased | Izbrisana, 2018) realiza um eficiente recorte sobre a prática de "apagamento" de cidadãos de outras repúblicas da ex-Iugoslávia na Eslovênia. Com o protagonismo da atriz Judita Frankovic no papel de Ana, uma mãe que dá à luz no hospital, descobre que está apagada do sistema e é obrigada a se separar da filha recém-nascida, a história retrata a sua dolorosa luta como uma estrangeira em um país que foi seu lar por anos.











A narrativa é construída com objetividade e economia em termos de roteiro, considerando que Ana é uma personagem que está sozinha e tem poucos recursos para lutar pela recuperação da filha. Uma vez, sendo uma "apagada", ela é como um zero à esquerda para a sociedade. Tamanha frieza dá uma dimensão de que os conflitos étnicos e separatistas da antiga Iugoslávia deixaram fraturas sociais profundas. 






Os personagens coadjuvantes, como o pai e o ex-amante, ajudam na jornada como uma luz no final do túnel, de forma a criar possibilidades para Ana, porém ainda são personas de uma Eslovênia fragmentada e suportada por uma máquina burocrática Kafkiana, pela influência do governo autoritário e por uma mídia pouco expressiva. Eles pouco podem fazer para ajudá-la, assim, estas ações limitadas dos coadjuvantes reforçam o quanto o apagamento deixa os cidadãos locais e estrangeiros com as mãos atadas.













Embora o filme foi realizado de uma forma datada como uma denúncia histórica, política e social e com fotografia e atuações próximas aos suspenses de guerra, ainda se trata de uma história intimista sobre maternidade e imigração. Com isso, o diferencial de Apagada é a atuação de Judita Frankovic, crível e direta.  A sensibilidade materna catalisada de forma não sentimentalista na sua atuação transforma esta jornada  em algo muito mais poderoso e verossímil. 





Se Ana esmorecer sua força apenas em lágrimas e desespero, é como dar o prêmio aos intolerantes. Ela sempre será uma mãe, apagada ou não,  e esta força é tremenda.








Fotos, uma cortesia do filme para crítica.

   #Drama #LGBTQI+ #Streaming #CinemaGuatelmaco Uma das novidades da plataforma  Cinema Virtual   Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueir...

 




 #Drama #LGBTQI+ #Streaming #CinemaGuatelmaco



Uma das novidades da plataforma Cinema Virtual 






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 





O Cinema de temática LGBTQI+ tem aumentado o número de produções independentes com a ampliação de espaços dialógicos para discussão e reflexão sobre a interseccionalidade entre gênero, raça e sexualidade. Embora haja uma tensa relação entre sexualidade e Cristianismo, como por exemplo, em "Má Educação" (2004, de Pedro Almodóvar) e em "Graças a Deus" (2018, de François Ozon), a maioria dos filmes buscam retratar os relacionamentos sob uma perspectiva realista e contemporânea que valoriza os afetos.










Na contramão de Me Chame pelo seu nome (2017) e Moonlight: sob a luz do luar (2016), Tremores (Temblores, 2019) do cineasta e roteirista Gualtemaco Jairo Bustamante opta por filmar a visão tradicional da repressão e do preconceito social contra um amor homossexual.  Na trama, o ator Juan Pablo Olyslager interpreta Pablo, homem evangélico casado com Isa (Diane Bathen) e pai de dois filhos. Ele se apaixona por Francisco (Maurício Armas) e decide morar com o amante. Sua família se une a Isa e a pastora da igreja e propõem um "tratamento" para curá-lo.











Como os tremores típicos da região vulcânica da Guatemala, o roteiro apresenta abalos profundos no relacionamento de Pablo com a família. Ele é privado da presença dos filhos e exposto a diversos tipos de humilhações. O posicionamento da família utiliza o discurso da religiosidade e da configuração convencional das famílias, assim a polêmica "cura gay" é exposta na narrativa com bastante afinco pelos envolvidos que se posicionam totalmente contra a homossexualidade. O tratamento ganha maior força a partir do meio da projeção, se afirmando como um assustador "rehab" anti-homossexual com absurdos contornos de radicalismo religioso.






A decisão do diretor em filmar de uma maneira didática e convencional funciona bem para esta dinâmica dramática, levando em conta que Pablo é um homem em crise em uma efervescente comunidade religiosa. Ele não deseja perder o amor dos filhos e nem da família, assim muitas de suas reações são baseadas na forte pressão social e no medo de perder a convivência com os filhos. Com isso, a maioria das cenas são tradicionais e bem diferentes de trabalhos anteriores do cineasta, como o elogiado Ixcanul (2015), ainda assim, entrega uma perspectiva coerente com o posicionamento de muitos evangélicos.










É interessante notar que o diretor emulou o radicalismo e não economizou tomadas nas igrejas, centro de "tratamento" e ambientes familiares com intensos conflitos, todas dirigidas com excelência. O público também deve ter em conta que a história é ambientada em uma família de classe média alta na Guatemala, um país com histórico de violência étnica e outros preconceitos. Observar que Pablo é um homem de família abastada que se envolve com um massagista de origem pobre e periférica mostra outra nuance social desta realidade hostil que eles têm que enfrentar.








Fotos, um cortesia assessoria do filme para crítica.

  Repescagem Mostra Play - 04 a 07 de Novembro Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação O...

 





Repescagem Mostra Play - 04 a 07 de Novembro




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação






O diretor Iraniano Mehrdad Kouroshnia tem experiência na TV com as séries Rhino e Forbidden e, em parceria com o roteirista Ali Asghari, estreia em longas-metragens com Sem Aban (Bi Aban| Without Aban, 2021), uma produção de baixo orçamento que se destaca pela habilidade do cineasta em explorar as locações em torno de um tripé de cenários formado por madeireira, floresta e rodovia e a direção de atores com a crível atuação de Reza Akhlaghi Raad.











A narrativa se desenvolve com uma tensa revelação após o guarda florestal Aban (Raad) encontrar o cadáver de uma garotinha no meio da estrada. O evento se transforma na ponta do iceberg de um segredo guardado há 15 anos e que coloca em risco o casamento entre ele e sua noiva interpretada por Sahra Asadollahi. Atormentado pela culpa de ter matado um garota em situação similar, Aban se apropria de um papel de justiceiro e de investigador e se empenha em descobrir quem atropelou a garota.





Sem Aban traz um componente de redenção diferente do que normalmente acontece no Cinema Ocidental, o que provoca um estranhamento com as situações vivenciadas pelo protagonista e que reflete uma faceta provinciana do Irã. Aban tem uma forte personalidade e tem certa influência no local, sendo assim, quando fala a verdade sobre seu passado, seu crime não vale nada para aqueles policiais ali que não podem reaver o cadáver enterrado há 15 anos atrás. Neste aspecto, a história carrega estranhezas nas quais o valor da verdade pode ser nulo ou mínimo.












Diante dos fatos nos quais Aban têm que lidar com contrabandistas e a arrogante mãe da noiva,  ele é mais um homem angustiado e arrependido em busca da verdade do que propriamente um homicida. Está inserido em um pequeno núcleo dramatúrgico capaz de negligenciar, ignorar e mentir, se for necessário, para manter uma imagem social e os negócios sob controle. 





Com isso, o longa coopera para refletir sobre verdade, culpa e justiça. Objetivo, econômico e eficiente, tem de tudo para colocar o público neste espectro de histórias Iranianas marcantes e estranhas com dilemas morais. Após o desfecho chocante, certamente, Sem Aban continua girando na cabeça como um assombro e com a dimensão dos danos que o ser humano provoca uns nos outros.






(3,5)




Fotos, uma cortesia Mostra SP para divulgação da crítica.

  #MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema #EuvinaMostra Repescagem Mostra Play - 04 a 07 de Novembro Por  Cristiane Costa ,  Edito...

 



#MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema #EuvinaMostra



Repescagem Mostra Play - 04 a 07 de Novembro




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




O longa-metragem Na Prisão Evin (At the End of Evin, 2021) dos diretores Iranianos Mehdi e Mohammed Torab-Beig apresenta a dramática história de Amen (voz de Mehri Kazemi), uma mulher transgênero que, diante do forte desejo de realizar a cirurgia de redesignação de gênero, conhece Naser (Mahdi Pakdel), homem rico e poderoso que está disposto a ajudá-la. O que ela não imaginava é que estava ingressando em uma jornada de violência e sacrifício que comprometeu sua liberdade.











Conduzido com uma perspectiva subjetiva na qual o espectador observa os demais personagens e espaços através a visão de Amen, o longa coloca o público na experiência da protagonista e materializa uma prisão simbólica. É uma trama perigosa na qual ela percebe como foi usada para atender os objetivos de Naser. Esta câmera pelos olhos de Amen representa a tensão vivida por ela que é deslocada para o público, sendo assim, as falas patriarcais e dissimuladas de Naser assim como as atitudes duvidosas dos demais personagens trazem um clima de perversidade e insegurança.





O dispositivo do ponto de vista de uma vítima absorve intensamente o drama da experiência, assim, transformando a narrativa em algo desolador, em contínuo suspense com um clima de horror moderno. É uma lente que se abre para observar as segundas intenções dos outros e como os discursos são construídos cinicamente por poderosos para se apropriar dos corpos, ausências e desejos alheios.











Na excelente interpretação de Mahdi Pakdel, o drama provoca mal estar e intensifica a pressão do poder oriundo de classe e gênero. Ele encarna bem o homem rico e odiável que consegue conduzir as ações para o bem próprio. Seu comportamento reforça as intenções gananciosas que inicialmente fizeram com que ele pedisse para Amen fingir ser sua filha para a avó cega. Amen aceitou utilizar essa máscara para obter a cirurgia, mas depois começa a perceber que Naser tem ambições bem mais perigosas do que apenas uma mansão como herança.





O dispositivo da subjetividade tende a cansar um pouco, como recurso cinematográfico, considerando que constrói uma narrativa claustrofóbica e exaustiva na forma como foi dirigido. Porém, é importante considerar que se trata de um filme-denúncia sob a perspectiva do horror sofrido por pessoas trans na sua condição social e econômica.  A prisão de Amen começou  bem antes, a partir da dependência do financiamento de um ganancioso milionário.








Fotos, uma cortesia Mostra SP para divulgação da crítica.