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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O consagrado produtor, cineasta e roteirista M. Night Shyamalan, famoso por sucessos como O Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000) e Fragmentado (2016) chegou a um ponto na carreira no qual tem total autonomia para investir em seus projetos como diretor executivo e realizador, além de definir quais ideias e inspirações utiliza, assumindo potenciais riscos. É o que acontece em Armadilha (Trap, 2024), suspense inspirado na Operação Flagship em Washington D.C (1985) onde policiais executaram uma estratégia para prender mais de 100 fugitivos por meio de um evento esportivo no qual foram concedidos ingressos gratuitos.
Em seu novo longa-metragem de custo estimado em USD 30 milhões, Shyamalan escreve um roteiro bastante linear, reunindo o útil ao agradável. Traz o experiente ator Josh Hartnett, como o protagonista Cooper, um bombeiro e pai que leva sua filha Riley (Ariel Donoghue) ao show de Lady Raven (Saleka Shyamalan, filha do diretor). A narrativa é estruturada de tal forma que coloca em evidência a filha dele como uma pop star enaltecida por milhares de adolescentes e, como dinâmica central, a polícia arma uma "armadilha" para caçar o serial killer Açougueiro durante o show.
Apesar da ideia inusitada, a premissa de reunir um ídolo pop e um serial killer em uma mesma ambiência é muito interessante porque a estranheza habita nesses tipos de situações e pessoas. Logo no início, há um anticlímax que prevalece em grande parte do longa, exatamente porque estamos diante de gente esquisita que não combina com o lugar. São diferentes tipos de "loucura" a serem observadas em cena. A primeira, com a idolatria de jovens diante de uma figura pública que sequer sabe que elas efetivamente existem e, ao olhar Lady Raven, não há muitos atrativos do porquê ela é tão endeusada. A segunda, diz respeito a Cooper que é um pai que tenta agradar a filha, mas sua imagem é de total desconforto, passando um comportamento forçado e artificial.
Com essas duas pontas, como atores, a dinâmica é lenta e o diretor usa de vários artifícios para estender ao máximo a duração da narrativa. Sua filha performa no palco em grande parte da historia como se tivesse realizando um sonho adolescente, e apenas mais adiante, é incluída como uma peça-chave para os desdobramentos de captura do serial killer. Por outro lado, Josh Hartnett demonstra que sua experiência carrega o filme nas costas. Ele está bizarro vestindo perfeitamente a roupa do pai de família que, ao olhos da sociedade parece um inofensivo homem, porém é insano de uma forma simples, organizada e sofisticada. No mais, o ator traz a figura do serial killer que tem um humor medonho, o que coopera para sustentar esse ambiente sinistro bastante comum nos filmes de M. Night Shyamalan.
Onde o filme se perde? Sem dúvidas, no roteiro. Se não fosse a presença de um excelente ator como Josh Hartnett, que está acostumado a roteiros mais independentes, o filme seria um desastre. A narrativa deixa uma lacuna imensa que impossibilita um melhor aprofundamento do personagem e dos desdobramentos, dessa forma, as transições são abruptas, o desenvolvimento é mínimo e o realismo é articulado pela experiência de Josh e sua capacidade de dar uma personalidade peculiar a um assassino em série. Shyamalan perdeu a oportunidade de explorar personagens como Dr. Josephine (Hayley Mills) e Riley, além de sua própria filha, como atriz. Tal risco não é surpreendente pois o cineasta já tem oscilado entre filmes muito bons e regulares.
De maneira sucinta, Armadilha é válido para reforçar que nem sempre os homens educados e tradicionais são bons exemplos de conduta. A maioria dos narcisistas e sociopatas são homens que fingem ser um ótimo exemplo de sucesso, seja profissional e/ou familiar, porém ocultam uma face monstruosa por meio de suas ações destrutivas. Por isso, Rachel (Alison Pill), a esposa do Açougueiro, em sua curta participação, tem um papel importante ao ter observado o comportamento do marido. Na maioria das vezes, o inimigo é quem está ao lado, cumprindo habilmente o uso de diferentes máscaras sociais.
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