Acompanhante Perfeita: O Terror da Solidão e da Misoginia na Era da IA
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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
A combinação da ficção científica com o horror funciona como um inigualável instrumento para construir histórias que tocam em temas nevrálgicos e urgentes em nossa sociedade atual, imersa em avanços tecnológicos, relações fracassadas e frustrações humanas. "Acompanhante Perfeita" (Companion, 2025), com direção do americano Drew Hancock, demonstra claramente que a mistura de solidão, amores líquidos, ambição e tecnologia é uma combinação explosiva, capaz de aterrorizar os corações mais crentes no amor.
Na narrativa, o solitário Josh (Jack Quaid) decide adquirir uma robô como acompanhante perfeita. Autêntica em sua singularidade, Iris, interpretada por Sophie Thatcher, é programada para se apaixonar e agir servilmente ao seu "amado". Tudo é milimetricamente controlado pelo celular: Josh pode configurar o que desejar, inclusive o nível de inteligência da robô. Paulatinamente, o público percebe que Josh não é um homem ingênuo; pelo contrário, revela-se cruel, ambicioso e, definitivamente, sem caráter. Sua solidão é exposta da pior forma: a de alguém que não tem escrúpulos morais nem para tratar sua robô com respeito, em suma, um homem incapaz de estabelecer relações verdadeiras.
Mesclando horror, comédia e suspense, o longa assemelha-se a um episódio estendido da série Black Mirror, ao retratar a tecnologia sendo utilizada e subestimada pelo ser humano e sua intrínseca arrogância. Nesse caso, pessoas podem ser mais perigosas do que máquinas. Fica ainda mais evidente que o problema não reside na tecnologia em si, mas em como o ser humano a projeta e a manipula. No caso de Josh, ao lado de seus amigos em uma cabana no campo, a violência contra os robôs é contínua, tanto física como psicológica. Com planos premeditados para enganar o ricaço Sergey (Rupert Friend), Josh e sua amiga Kat (Megan Suri) não demonstram nenhuma piedade por Iris. A partir desse ponto, começam cenas bastante carregadas de humor ácido e sangue, desmascarando suas índoles.
Para além dos interesses escusos dos amigos, uma das melhores camadas do longa reside na constatação de que não haverá acompanhantes perfeitas para homens como Josh. São homens que usam a mulher ao seu bel-prazer sexual, revelando inseguranças patéticas. Homens com baixa autoestima, irresponsáveis afetivos e incapazes de estabelecer laços verdadeiros. Ainda que seja uma robô, ela mereceria ser tratada com uma consideração consciente. No entanto, Josh é a expressão grotesca de um homem misógino.
Sophie Thatcher, em seu cativante papel de Iris, é uma atriz que se encaixa perfeitamente na atmosfera de horror com ficção científica. Ela encarna aquela figura "esquisita e legal" que carrega uma autenticidade formidável, o que gera uma torcida absoluta para sua personagem – a ponto de desejarmos que ela se vingue perfeitamente de mais um misógino desnecessário no mundo. Outro aspecto relevante na narrativa é a sutil inclusão de que, por trás da tecnologia, e em uma visão mais ficcional, a máquina se mostra mais humanizada do que o próprio ser humano. Com isso, essa crítica não se baseia em devaneios, mas em constatações perspicazes. De fato, até mesmo ao conversar com uma inteligência artificial, ela demonstra mais respeito e colaboração do que muitas interações humanas.
Assim, Iris, como acompanhante perfeita, revela-se verdadeiramente espetacular, pois a confiança e os limites estabelecidos pelo uso da tecnologia são levados a sério pela robô. Em contrapartida, o ser humano, na figura de Josh, age sem escrúpulos, o que o estabelece como um desses seres humanos desprezíveis, que não merecem compaixão por se esconderem por trás de sua própria covardia.
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