#Documentário #Envelhecimento #CinemaAmericano #EstrelasdeHollywood #Autenticidade #Liberdade #Feminino #DivaDoCinema Por  Cristiane Costa...

 




#Documentário #Envelhecimento #CinemaAmericano #EstrelasdeHollywood #Autenticidade #Liberdade #Feminino #DivaDoCinema



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Kim Novak's Vertigo: A liberdade como último papel




O cinema, em sua fascinação pelo mito, frequentemente busca desvendar os grandes enigmas de Hollywood. É nesse território que se posiciona o documentário Um Corpo que Cai, por Kim Novak (Kim Novak's Vertigo, 2025), destaque na Mostra SP. O filme, que não se apoia em artifícios narrativos espetaculares, revela-se um documentário intimista sobre a busca por autenticidade da atriz após uma longa e exaustiva carreira. A obra é um mergulho na jornada existencial de uma mulher que trocou o estrelato pela autonomia, sem renegar os papéis que a moldaram e os aprendizados que a sustentam.





O documentário utiliza o clássico Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958) como metáfora central para a vida de Novak, que contracenou com James Stewart. Em seu depoimento honesto, ela revela que a atuação no filme elevou o drama do “duplo” a uma tensão excepcional, mas também expôs um espelhamento profundo com sua própria trajetória profissional e sua confusão de identidade. O fato de ela assumir a bipolaridade evidencia que essa tensão de duplos já a acompanhava, e conviver com o transtorno, sem compreender plenamente sua complexidade, tornou-se um fardo existencial.












A decisão de Novak de se desconectar do star system foi um ato de liberdade e autenticidade. O documentário é cauteloso em como lida com a política de Hollywood. Ele não se rende ao sensacionalismo nem à exposição gratuita, mas pontua o que muitos já sabem sobre a indústria. Ela lapidou atrizes belas e talentosas, cobrando em troca sua sanidade e identidade. A forma como o filme é estruturado e montado, preservando sua voz e sua privacidade, deixa claro que o cuidado com a saúde mental e a proteção da sua individualidade eram imperativos inegociáveis.





O trabalho do diretor Alexandre O. Philippe é inegavelmente respeitoso e demonstra um alinhamento amigável com Novak, mantendo uma harmonia narrativa. Contudo, o filme carece de profundidade investigativa. Há a impressão de que o diretor assumiu mais o papel de arquivista do que de cineasta, contentando-se com o depoimento da atriz sem adicionar perspectivas externas, como outros entrevistados ou aprofundamento nos bastidores de Vertigo. Confunde-se, assim, a escuta empática com uma vitrine da fragilidade, onde o silêncio pesa mais que o contexto, o que pode desagradar o público que buscava um olhar mais crítico sobre Hollywood.












O documentário não investiga o envelhecimento em sua plenitude estética, mas tem um lado saudosista de homenagem que sedimenta a escolha da atriz por sua autonomia e autenticidade. Para o espectador, o maior legado é o exemplo de vida que o filme oferece. A busca por outras artes pessoais, como a pintura, e uma vida mais tranquila funcionam como a vitória final. Embora o formato documental pudesse ter explorado mais a história profissional de Novak, para além das imagens congeladas em arquivos, o resultado é um retrato positivo sobre a importância de ser autêntica e de priorizar a verdade interior acima do brilho fugaz das telas.







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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Eu Verei: A Busca Onírica pela Liberdade e o Alto Preço da Visão




A diretora Mercedes Stalenhoef iniciou sua jornada com este filme a partir de uma vivência profunda: o acompanhamento próximo de um amigo que perdeu a visão. Sua decisão de trabalhar com atores e figurantes majoritariamente cegos confere um realismo naturalista à obra. O posicionamento da cineasta é, portanto, híbrido. Ela harmoniza a ficção com a rotina de ressignificação, adaptação e sofrimento de Lot (Aiko Mila Beemsterboer).




A vulnerabilidade de Lot se aprofunda ao confrontar a perda de sua identidade. Sendo uma atleta de mergulho, seu corpo e controle ativo eram sinônimos de performance. Seu sonho de ser arqueologista marinha era uma extensão existencial. Essa perda a coloca na fronteira entre a superação e o fracasso, gerando a urgência pela fuga. Essa crise existencial encontra eco na forma como o filme traduz visualmente a nova percepção de mundo da protagonista.








O filme se revela um olhar sensível, utilizando a sutileza do design para registrar a nova percepção de Lot. A cinematografia trabalha com a amplificação sensorial. O público observa detalhes que são intrinsecamente táteis e sonoros: a queda de um ovo, o toque da bengala, e a amplificação dos sons do mar, do vento e da música.




Lot se refugia em sonhos vívidos que servem como uma fuga escapista do drama. A leitura crítica, ancorada na psicologia analítica, sustenta que o cérebro já possui essa habilidade de enxergar sonhos como janelas do inconsciente. O filme, no entanto, opta por um recurso químico, como medicamentos ou drogas, não para criar a visão onírica, mas para forçá-la e intensificá-la. Essa escolha revela a fronteira frágil entre superação e fracasso pessoal.










Enquanto Lot busca refúgio nos sonhos, sua realidade afetiva se desintegra em silêncio. O papel de Caps, o namorado de Lot, é construído em uma ambiguidade que o reduz à figura de um companheiro compassivo, porém distante. O distanciamento entre o casal é implícito, mas palpável. A omissão do roteiro, neste ponto, reflete uma tese sobre a dura realidade de homens que abandonam mulheres não por falta de carinho, mas por não saberem lidar com a dor, a vulnerabilidade ou a nova condição da pessoa amada. Essa distância se aprofunda quando Lot encontra conexões com deficientes visuais no centro de reabilitação. O filme é coerente em não investir na família e amigos de Lot, pois, na vida real, as pessoas mudam e os relacionamentos se redefinem quando rotas de vida se alteram drasticamente.





No final, a diretora entrega uma mensagem poderosa. O filme consegue evitar o clichê da "história inspiradora" ao confrontar o espectador com a desordem do real. Ele nos força a despir a primazia da visão e a entender que a verdadeira cegueira não está na ausência de luz. Está na incapacidade de ver a humanidade do outro.





(3,5)


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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



O Mundo do Amor: Trauma, Resiliência e o Otimismo Possível




 diretora Yoon Ga-eun, em sua reconhecida excelência, tem o propósito claro de abordar as sutilezas do universo infantil e juvenil. Em O Mundo do Amor (Segyeui Ju-in), ela percorre o cotidiano da adolescente Joo-in no ambiente escolar, nas interações com as amigas e o namorado. Também estende a câmera a crianças mais jovens, como o irmão e a menina na creche dirigida pela mãe da protagonista. Essa escolha é propositalmente leve e humanizada, introduzindo o cotidiano com humor e as dificuldades inerentes à comunicação de jovens e crianças. Essa leveza inicial contrasta com a profundidade do tema central que se revela aos poucos: o trauma do abuso sexual.








O filme se revela uma obra diferenciada e legítima, tratando esse tabu universal, intensificado quando o algoz é um parente próximo, com inteligência aguda. O roteiro não se limita à denúncia, mas expõe as camadas complexas da cultura do silêncio, que se manifesta em cada personagem: na negação da mãe, na ausência do pai, na dúvida dos colegas e na repressão da própria vítima. A protagonista, Joo-in, é o grande acerto. Mesmo sentindo-se sozinha em sua dor, ela tenta ao máximo projetar uma imagem de superação e normalidade. Esse lado expansivo e, por vezes, desafiador, é o seu posicionamento pessoal e ativo diante do trauma. É uma forma de processar a dor em silêncio e ressignificar a própria história. A impassividade da mãe, nesse sentido, não é uma falha dramática. Ela representa, de forma dolorosa, a cultura que prefere o silêncio à confrontação.











Os bilhetes anônimos funcionam com eficácia máxima como um artifício de thriller, pois imediatamente forçam o público a uma reflexão moral. Joo-in está falando a verdade ou está apenas representando? Ela é genuinamente brincalhona ou carrega uma trágica máscara social? Como dispositivo para o suspense, o recurso é funcional. No entanto, a maior riqueza narrativa está na forma como ele aprofunda a complexidade da protagonista, especialmente em sua última aparição, que ilumina o entendimento integral da obra sem recorrer a revelações explícitas.





Essa ambiguidade narrativa encontra eco na performance de Seo Su-bin. Há momentos em que Joo-in é deliberadamente irritante e forçada, transmitindo a impressão de que exagera nas brincadeiras e discussões. Esse comportamento é o reflexo da pressão cultural para o sucesso e a disciplina que se espera de adolescentes em culturas asiáticas. Também funciona como uma máscara social para disfarçar a vulnerabilidade. A essência de seu papel é complexa. Joo-in, com pais omissos e um trauma profundo que a marcou para sempre, recusa-se a ser definida por essa dor. Há cenas pontuais que funcionam como chaves simbólicas para entender sua trajetória emocional.













O conceito de Segyeui Ju-in, que significa “Proprietário do Mundo” ou “Mestre da Própria Vida”, é eficaz para a cultura sul-coreana. Em uma sociedade que ainda preserva fortes traços de tradição, tornar-se proprietário da própria vida exige coragem e continuidade. A diretora Yoon Ga-eun entrega essa mensagem de resiliência e empoderamento de forma sutil. A afirmação da autonomia acontece em momentos de silêncio ou em diálogos discretos, mas é um posicionamento claro para as novas gerações. O otimismo existe, sim, mas não como um caminho fácil. Ele surge como a necessidade de não se forçar a nada, apenas ressignificar o próprio mundo.






O filme é um testemunho da resiliência. A cineasta já entrega a própria resiliência com a proposta da obra: tratar um tema polêmico e traumático na grande tela do cinema e para multidões de espectadores. A história não é só sobre a Coreia, mas sobre o jovem permitir-se redesenhar sua história. O passado não se apaga, mas o presente pode ser diferente.
Em O Mundo do Amor, ser proprietário da própria vida é um gesto silencioso de coragem e de amor.










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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Terra Perdida: O Realismo Visceral da Infância Roubada na Crise Rohingya 





A arte cinematográfica, em sua vocação de expor as tensões da sociedade, encontra em Terra Perdida (Lost Land, 2025) uma obra de urgência e beleza raras. O filme, do diretor japonês Akio Fujimoto, mergulha na complexa crise de refugiados Rohingya, utilizando a perspectiva de duas crianças para navegar pelo sofrimento. Este drama, vencedor do Prêmio especial do júri em Veneza, utiliza o realismo estético como a lente para aprofundar a discussão sobre direitos humanos e o luto da infância interrompida.



A opção do diretor por uma câmera naturalista e um estilo documental é o acerto fundamental da obra. Esse rigor estético e a escolha do ângulo infantil permitem que o público se conecte com o drama da imigração de forma autêntica. O amor entre os irmãos suaviza a crueldade e a desumanidade da perda do lar e da incerteza do destino, tornando a tragédia não apenas visível, mas suportável pela lente do afeto.




A escolha de Akio Fujimoto por atores não-profissionais — pessoas que vivenciaram a realidade retratada — ancora a obra em um realismo visceral e irrefutável. O impacto estético e moral reside no fato de que o sofrimento em tela é um eco da vida real desses indivíduos, humildes e vulneráveis. Cenas de perseguição policial, a travessia por florestas hostis e o confinamento desumano transformam o longa em uma denúncia. No entanto, é na figura de Somira que o diretor encontra o heroísmo trágico. Sua infância é abruptamente roubada, forçando-a a uma maturidade precoce para proteger o irmão mais novo, Shafi. Essa responsabilidade feminina elevada em um contexto violento e hostil sublinha a violação irreparável da dignidade humana.










A cinematografia da obra estabelece um híbrido estético que é intencional e comovente. A câmera, mais observadora e contemplativa, acompanha os irmãos em uma jornada tragicamente heroica, registrando o cotidiano do atravessamento. Já a câmera da travessia no mar, na floresta, com outros atores, é notadamente mais documental e naturalista. O diretor utiliza uma iluminação escura, violência dentro e fora do plano e fugas com câmera estilo "na mão", provocando o terror cru da imigração. No entanto, o filme faz uma concessão à realidade mais brutal: ao reservar momentos de irmandade e brincadeira, ele quebra deliberadamente o realismo extremo da violência para manter a chama da humanidade e a esperança em um futuro, o que é um recurso narrativo que o público acolhe.




Na tentativa de construir a forte camada da irmandade, a narrativa se concentra em cenas mais contemplativas e pessoais sobre a conexão dos irmãos, e a dinâmica da violência brutal sofre "idas e vindas". Essa escolha da direção, que dilui o ritmo do horror para honrar a resiliência infantil, previne o filme de cair no melodrama fácil ou na exploração sensacionalista da miséria, mas também limita o engajamento emocional que transcende o afeto pelos dois protagonistas.










Embora, na experiência de festival com legendas, a língua Rohingya não seja imediatamente percebida como chave para o público, respeitamos a importância vital de sua inclusão. Ter uma língua nativa em tela é um ato de identidade e pertencimento para um povo sob risco de apagamento. De maneira muito nobre e crítica, o cineasta deu voz a essas pessoas que, no sonho de ter uma vida mais digna, se colocam em risco e, logo, sob a ameaça da violência e da aniquilação. A obra, assim, cumpre o papel de celebrar a diversidade de cinematografias mundiais e de expressar a universalidade dos dramas humanos.





(3,5)


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