MaDame Lumière

Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

  #Scifi #Horror #Suspense #IA #robôs #streaming Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação...




 #Scifi #Horror #Suspense #IA #robôs #streaming


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 



Megan Fox está de volta no mais novo horror de ficção científica, Alice (Subservience, 2024), no qual ela encarna uma robô adquirida por Nick (Michele Morrone), um pai de família que vivencia um momento delicado ao ter sua esposa Maggie (Madeline Zima) hospitalizada por grave condição cardíaca. Com duas crianças pequenas e sob pressão no trabalho, Nick decide contar com os serviços dessa inteligência artificial para cuidar dos filhos e da casa. O que ele não esperava é que, por trás de toda tecnologia e praticidade de uma IA, Alice é um robô que passa a ter comportamentos humanos perigosos. Pouco a pouco, o desejo dela é se apropriar do papel de dona da família.









O universo da ficção científica é um terreno fértil para a exploração dos dilemas morais do uso da inteligência artificial. Esse filme traz uma ideia interessante sobre a condição de humanização dos robôs, incluindo seus potenciais danos. Não é a primeira vez que o Cinema utiliza a premissa do desenvolvimento da consciência e do desejo das IAs em ter uma vida humana, com relacionamentos e emoções ou, em certo ponto, explorar nuances e fronteiras da intrigante relação entre robôs e humanos. Filmes como HER, Ex-Machina e Blade Runner já incorporaram essa tensão, o que acabam por ser excelentes narrativas.





Em Alice, Megan Fox representa uma personagem atraente, não apenas fisicamente dentro de um padrão de robô que foi desenhada para ser impecável, mas ela é absurdamente obediente ao seu usuário principal (Nick) em grande parte do filme. Seu papel é protegê-lo e cuidar de sua família, o que implica aplicar protocolos de análise das reações humanas, dessa maneira, Nick está constantemente sendo observado, o que gera uma relação obsessiva. Além disso, o acréscimo de uma camada de doença familiar, com a ausência de Maggie, e a outra com uma robô servil, bonita e sedutora transforma a vida dele em um contexto de vulnerabilidades e tentações.









Ainda que o filme não aprofunde o uso da IA em robôs semelhantes a humanos e Megan Fox atue de forma mais operacionalmente eficiente do que adicionar boas camadas de criação de consciência e sentimentos, o filme vale a diversão pelo desejo e obsessão de Alice. O diretor S.K. Dale se apoia na beleza dos protagonistas e investe em algumas cenas de sexo, o que mostra superficialidade para desenvolver essa narrativa no potencial que ela tem. Outro aspecto é que a relação de robô e humano  é permeada pelo comando e controle, assim, Nick é o centro da ação de Alice o que a faz perder a civilidade ao perder o controle. Durante a experiência com o filme, Alice é como aqueles suspenses passionais que atraem os curiosos em plataformas de streamings.









Diferente de outros filmes sobre IA que despertam compaixão com relação à limitação "humana" dos robôs, em Alice não é possível sentir pena de Alice. Desde o início ela é estranha e não se conecta com essa família de forma harmoniosa e verdadeira. Tudo passa por seu controle sob Nick disfarçado de subserviência até que culmine em quebras de fronteiras morais, levando a violência e opressão. A aproximação com o subgênero de sci fi horror traz um robô que se volta contra o ser humano, representando perigo e morte. 




Megan Fox está ótima, apesar das limitações da história, dada sua personificação como uma verdadeira combinação de robô sedutora e boneca assassina. Suas  feições enigmáticas e frias demonstram que, em algum momento, ela é capaz de perder a racionalidade e ceder à violência. Essa demonização dos robôs é uma escolha de roteiro que reforça mais o aspecto do horror do que da sci fi, dessa forma, a família de Nick prova dos benefícios e malefícios de ter conhecido Alice. 




Seria um robô um perigo à humanidade? Talvez! Só não podemos nos esquecer de que cabe ao ser humano decidir como usar a IA e os limites dessa relação e, na maioria das vezes, o perigo está na natureza humana em fazer escolhas danosas.







Fotos: Divulgação

  #Exorcismo  #Horror #Terrorsobrenatural #streaming Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunic...

 




#Exorcismo  #Horror #Terrorsobrenatural #streaming


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 


Uma das potentes vias do terror no Cinema é o exorcismo que, baseado no sobrenatural e ação contra o mal, mais precisamente no combate à possessão por demônios, ganhou fãs desde o clássico O Exorcista (The Exorcist, 1973) dirigido por William Friedkin. Se por um lado, o tema desperta a curiosidade e a recepção, transitando entre a crença e a incredulidade de muitos, por outro lado, o subgênero apresenta desafios muito inerentes à sua característica, os chamados clichês do gênero. Aqui eles não deixam de marcar presença por meio de corpos possuídos por feições endemoniadas, vozes estranhas e em movimentos perturbadores.








O Exorcista do Papa (The Pope's Exorcist, 2023) cai naturalmente nesses clichês e, mesmo com a presença do querido Russell Crowe, a expulsão de demônios se esgota no esforço dos efeitos visuais. A diferença é que, tendo como base que foi inspirado nos relatos do exorcista chefe do Vaticano, Padre Gabriele Amorth, falecido em 2016, o longa-metragem merecia um melhor desenvolvimento, inclusive na narrativa, curiosidades  e experiências da vida pregressa do padre.




Na forma como o filme foi roteirizado, Russell Crowe faz o papel de Amorth, um sobrenome bem sugerido, por coincidência ou não, já que lembra sonoramente "A Morte". Como toda função de um exorcista, o Padre é homem de confiança do maior bispo existente na Igreja Católica, o Papa. À serviço de Roma e da Igreja, o compromisso de Gabriele Amorth é genuinamente dar consciência de que o mal existe e deve ser combatido como exercício contínuo da fé.







Com fundamento nesse forte compromisso, ainda que seja apenas um filme, teoricamente haveria matéria de trabalho, ou seja, muito conteúdo a ser explorado considerando que Amorth era conhecido por ter realizado mais de 100 mil exorcismos; entretanto, o roteiro se reserva ao padre expulsar o demônio mais poderoso que se apoderou do corpo de um garoto. Em determinado avanço da narrativa, o espectador descobre o porquê esse demônio representa um mal ocultado pela igreja católica e, é exatamente nesse momento que o filme confirma que a escolha dos roteiristas foi ser breve e superficial.




Tirando mais a lupa e olhando a entrega global do filme, não é uma má experiência, apenas um entretenimento rápido que contou com bom uso visual  dos clichês. Como Amorth escreveu vários livros, entre eles, "Um exorcista conta-nos" e "Novos relatos de um exorcista", que serviram como inspiração para o longa, nota-se uma perda de oportunidade de aprofundar a sabedoria de Amorth no desenvolvimento narrativo. Tal constatação também faz refletir se houve algum impeditivo do Vaticano e/ou da família do padre, respectivamente, de natureza política e emocional, que possa ter interferido na adaptação do filme. 









Russell Crowe não teve muito o que fazer a não ser agir profissionalmente com as ferramentas que lhe foram dadas. Ele é divertido com momentos mais leves como andar com sua Vespa pela bela Itália, beber seu whisky escondido na batina e fazer piadas jocosas como o tio do churrasco. Vê-lo em um papel de exorcista mostra que ele tem a versatilidade para ser um padre e um gladiador e é uma presença bem vida aos cinéfilos.



Ao fim, se há algum aprendizado na história, podemos afirmar que o maligno não está apenas nas dimensões do sobrenatural, mas ele jaz aqui mesmo na terra, na natureza humana e seu dia a dia. Nesse sentido, qualquer filme sobre exorcismo não deve ser subestimado em sua mensagem. Muito além dos sustos e seus previsíveis clichês, filmes de exorcismo nos fazem lembrar que, de fato, o mal existe. Cada um de nós pode combatê-lo pois temos o livre arbítrio de escolher e cultivar o bem. 








Imagens : uma cortesia Sony pictures para divulgação de filmes em veículos de comunicação.






  #Serialkiller  #Suspense #Horrorpsicológico #streaming Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Com...


 



#Serialkiller  #Suspense #Horrorpsicológico #streaming


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 


O consagrado produtor, cineasta e roteirista  M. Night Shyamalan,  famoso por sucessos como O Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000) e Fragmentado (2016) chegou a um ponto na carreira no qual tem total autonomia para investir em seus projetos como diretor executivo e realizador, além de definir quais ideias e inspirações utiliza, assumindo potenciais riscos. É o que acontece em Armadilha (Trap, 2024), suspense inspirado na Operação Flagship em Washington D.C (1985) onde policiais executaram uma estratégia para prender mais de 100 fugitivos por meio de um evento esportivo no qual foram concedidos ingressos gratuitos.








Em seu novo longa-metragem de custo estimado em USD 30 milhões, Shyamalan escreve um roteiro bastante linear, reunindo o útil ao agradável. Traz o experiente ator Josh Hartnett, como o protagonista Cooper, um bombeiro e pai que leva sua filha Riley (Ariel Donoghue) ao show de Lady Raven (Saleka Shyamalan, filha do diretor). A narrativa é estruturada de tal forma que coloca em evidência a filha dele como uma pop star enaltecida por milhares  de adolescentes e, como dinâmica central, a polícia arma uma "armadilha" para caçar o serial killer Açougueiro durante o show.








Apesar da ideia inusitada, a premissa de reunir um ídolo pop e um serial killer em uma mesma ambiência é muito interessante porque a estranheza habita nesses tipos de situações e pessoas. Logo no início, há um anticlímax que prevalece em grande parte do longa, exatamente porque estamos diante de gente esquisita que não combina com o lugar. São diferentes tipos de "loucura" a serem observadas em cena. A primeira, com a idolatria de jovens diante de uma figura pública que sequer sabe que elas efetivamente existem e, ao olhar Lady Raven, não há muitos atrativos do porquê ela é tão endeusada. A segunda, diz respeito a Cooper que é um pai que tenta agradar a filha, mas sua imagem é de total desconforto, passando um comportamento forçado e artificial.




Com essas duas pontas, como atores, a dinâmica é lenta e o diretor usa de vários artifícios para estender ao máximo a duração da narrativa. Sua filha performa no palco em grande parte da historia como se tivesse realizando um sonho adolescente, e apenas mais adiante, é incluída como uma peça-chave para os desdobramentos de captura do serial killer. Por outro lado, Josh Hartnett demonstra que sua experiência carrega o filme nas costas. Ele está bizarro vestindo perfeitamente a roupa do pai de família que, ao olhos da sociedade parece um inofensivo homem, porém é insano de uma forma simples, organizada e sofisticada. No mais, o ator traz a figura do serial killer que tem um humor medonho, o que coopera para sustentar esse ambiente sinistro bastante comum nos filmes de M. Night Shyamalan.








Onde o filme se perde? Sem dúvidas, no roteiro. Se não fosse a presença de um excelente ator como Josh Hartnett, que está acostumado a roteiros mais independentes, o filme seria um desastre. A narrativa deixa uma lacuna imensa que impossibilita um melhor aprofundamento do personagem e dos desdobramentos, dessa forma, as transições são abruptas,  o desenvolvimento é mínimo e o realismo é articulado pela experiência de Josh e sua capacidade de dar uma personalidade peculiar a um assassino em série. Shyamalan perdeu a oportunidade de explorar personagens como Dr. Josephine (Hayley Mills) e Riley, além de sua própria filha, como atriz. Tal risco não é surpreendente pois o cineasta já tem oscilado entre filmes muito bons e regulares.




De maneira sucinta, Armadilha é válido para reforçar que nem sempre os homens educados e tradicionais são bons exemplos de conduta. A maioria dos narcisistas e sociopatas são homens que fingem ser um ótimo exemplo de sucesso, seja profissional e/ou familiar, porém ocultam uma face monstruosa por meio de suas ações destrutivas. Por isso, Rachel (Alison Pill), a esposa do Açougueiro, em sua curta participação, tem um papel importante ao ter observado o comportamento do marido. Na maioria das vezes, o inimigo é quem está ao lado, cumprindo habilmente o uso de diferentes máscaras sociais.







Fotos: Uma cortesia Warner Bros para divulgação de críticas de filmes.

  #Viagemnotempo #Mistério #Suspense #Família #Portaisdotempo  Crítica sem qualquer spoiler!  Descubra sozinho(a) os mistérios de Caddo Lake...

 



#Viagemnotempo #Mistério #Suspense #Família #Portaisdotempo 


Crítica sem qualquer spoiler! 

Descubra sozinho(a) os mistérios de Caddo Lake e boa sessão!


Dica #MadameLumière Streaming, disponível na MAX



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 



Nós somos uma família e a natureza se encarregará de nos conectar! Essa é uma frase inspirada nos encontros e desencontros das relações familiares após assistir a Os Horrores de Caddo Lake (Caddo Lake, 2024), longa disponível na plataforma de streaming MAX e produzido pelo mestre dos mistérios, M. Night Shyamalan. A premissa é uma ficção estruturada a partir de viagens do tempo, por meio de portais que se abrem durante o período de seca das águas próximas às áreas pantanosas de Caddo Lake. O título do filme deixa a entender uma proposta mais baseada no horror, entretanto, é uma tradução equivocada tendo em vista que poderia ser "Os mistérios de Caddo Lake", título que cairia bem melhor a esse ótimo suspense.








Ambientado em uma região na fronteira entre Texas e Louisiana, a cidade personifica um lugar que certamente poucos gostariam de morar. Lago e pântano, com uma barragem próxima e uma energia misteriosa e deprimente, levando a crer que, inicialmente, alguém será assassinado ou sequestrado. No núcleo familiar, temos 2 composições: Paris (Dylan O'Brien), seu pai Ben (Sam Hennnings) e sua namorada Cee (Diana Hooper), no  outro, as irmãs Ellie (Eliza Scanlen)e Anna (Caroline Falk) e os pais, Daniel (Eric Lange) e Celeste (Lauren Ambrose). Paris e Ellie são os personagens centrais que se movimentam com protagonismo para que o público entenda as relações entre as viagens do tempo e os núcleos familiares.








Na história, Paris perde sua mãe após um acidente de carro. Inconformado com a tragédia, ele busca saber o porquê ela sofreu convulsões durante o acidente, fato que nunca foi esclarecido pela Medicina de forma clara. Do outro lado, Ellie tem um conflituoso relacionamento com sua mãe e nunca conheceu o pai. Após o desaparecimento de Anna, irmã de Ellie, essas vidas se cruzam por meio dos portais do tempo que se abrem em circunstâncias específicas e misteriosas, despertando em Paris e Ellie uma atitude investigativa em meio ao drama de suas famílias.








Para quem gosta da famosa série Dark (Netflix) e as mudanças temporais e espaciais, se identificará com esse filme, seja por uma conexão com a Física ou com dramas familiares disfuncionais. Caddo Lake traz um excelente sentido ao explorar os mistérios da natureza e as conexões familiares, quando é possível olhar a família com olhos amorosos, apesar das fatalidades. Não é um filme sentimentalista, mas de certa forma, sua existência traz emoções genuínas e está a serviço de como podemos encontrar respostas nestas viagens do tempo e, como seria bom se pudéssemos encontrar aquelas pessoas que amamos ou que gostaríamos de ter conhecido. 



Levando em conta essa forte possibilidade de conexões mais humanizadas, Caddo Lake tem muito potencial para se tornar uma série, dando maior tempo de criação para estabelecer o mistério e seus desdobramentos em uma família. Tanto Paris como Ellie são personagens interessantes e que poderiam ser melhor explorados já que estão conectados pelo luto, perda e busca pela verdade. Assim, cada abertura desses portais envolve uma cronologia e acontecimentos que ocorrem muito rápido para dar tempo de caber dentro da duração do longa. Tudo isso contribui para a continuidade da ideia como produto audiovisual.









Apesar da sugestão como série, a execução do filme como mistério é habilidosa devido à temática e articulação dos roteiristas e diretores Celine Held e Logan George. Nesse sentido, eles realizam um excelente filme que abre um verdadeiro portal ao público, despertando a vontade de saber o que poderia ter acontecido  a esses familiares. No geral, o longa é como um piloto promissor. Se M. Night Shyamalan quiser injetar mais investimento na ideia e aproveitar a parceria com a MAX, que tem uma característica de explorar filmes de terror, suspense e mistério, quem terá instigantes viagens no tempo será a audiência, o que será um tremendo prazer cinéfilo.







Fotos MAX original para divulgação do filme pela crítica especializada.

  #Envelhecimento#Horrorpsicológico #Terror #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Obsessãopelabeleza #FicçãoCientífica #DemiMoore Um soco no e...


 


#Envelhecimento#Horrorpsicológico #Terror #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Obsessãopelabeleza #FicçãoCientífica #DemiMoore


Um soco no estômago do começo ao fim!

Try the Substance



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 



Já ouviu a frase "Envelhecer é uma merda?". Concordar ou não com essa afirmativa depende do ponto de vista de cada um. Envelhecer é um presente se você está bem consigo mesmo(a) e o movimento natural de diferentes ciclos, amadurecimento e evolução e tem condições de ter uma envelhecimento com prevenção à saúde, bem estar, conforto e qualidade de vida. Ter longevidade com um estilo saudável e vívido e um senso de autorrealização é raro, mas não é impossível. Por outro lado, envelhecer em uma sociedade como a nossa guarda em si uma crueldade com o outro, quando observamos que as pessoas não respeitam quem envelhece, principalmente quando valorizam demasiadamente a juventude física em um mundo cada vez mais obsessivo com a beleza e as intervenções de natureza estética.







Com essa base temática, um dos melhores lançamentos do Cinema em 2024 apresenta um terror com crítica social que escancara a monstruosidade dos padrões estéticos e de uso de substâncias para imposição da beleza e juventude feminina. Lançado pela Imagem Filmes em parceria com a MUBI e direção da cineasta Francesa Coralie FargeatA Substância (The Substance, 2024) traz Demi Moore no papel de Elizabeth Sparkle, estrela de fama em Hollywood por anos que, após atingir maior maturidade, é descartada pelo executivo da indústria, o asqueroso Harvey (Dennis Quaid). Bastante impactada pela rejeição e tomada por contínua solidão, ela é atraída pela Substância, uma droga que propõe um rejuvenescimento rápido, oferecendo uma solução intrigante e sedutora: uma melhor versão de si mesma.







O que é uma melhor versão de si mesma? Apenas cada um pode escolher a sua. A melhor versão para algumas mulheres é ter um corpo padrão, esteticamente atraente, ainda que a mente esteja vazia. Para outras, alcançar a melhor versão de si mesma é evoluir espiritualmente com propósito coletivo e compromisso social, já outras preferem o equilíbrio entre o bem estar e a saúde do corpo e da mente. Considerando essas escolhas que não devem ser perdidas de vista no mundo real, o roteiro do filme é muito bem elaborado. Ele faz o público refletir por meio da espiral obsessiva e destrutiva de Elizabeth Sparkle: uma mulher deve ceder à pressão social de ser bela e jovem ou ela pode buscar resultados de médio e longo prazo e cuidar da sua saúde mental como principal alicerce?







Fatalmente, Elizabeth escolhe o caminho mais fácil: a droga e o imediatismo. Escolhe ser Sue (Margaret Qualley), no auge de sua juventude e perfeição estética. Ao usar A Substância, Elizabeth alterna seus momentos como Sue, estando nesta troca a dinâmica de destruição da personagem com uma combinação de terror e ficção científica que gera cenas agonizantes e monstruosas. É impactante ver a sua queda cada vez mais violenta, uma mutilação do corpo físico e da alma. 



Com a excelente direção de Coralie e interpretações críveis e intensas de Demi e Margaret, a narrativa apresenta referências audiovisuais do horror como a decadência psicológica  e física, a metamorfose dos corpos, a agonia visual da destruição humana, a glutonaria e o espetáculo sanguinário. Com todas essas virtudes em uma verdadeira aula de Body Horror, um dos subgêneros e estéticas do Horror Contemporâneo, merecidamente, o filme ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes 2024.







Embora apresente uma duração mais longa, o roteiro não se perde, tanto em clímax com em desfecho, porque há um conflito psicológico na personagem de Demi Moore que extrapola a aniquilação física. Diz respeito ao aspecto mais importante do filme: a obsessão e a solidão como mistura angustiante de que ela não conseguirá se livrar de Sue. Sua versão jovem quimicamente induzida é o sonho e a realização. Como Sue, ela é desejada e amada, famosa e em evolução. Essas emoções são compreensíveis porque toda mulher quer ser amada e valorizada. A diferença aqui é a dose e o quanto cada mulher está disposta a sacrificar a sua própria sanidade, seu corpo e saúde.



Infelizmente, com a sociedade líquida e de aparências na contemporaneidade povoada por influenciadoras digitais que vendem um engajamento baseado em escolhas estéticas duvidosas, de culto exacerbado ao corpo e esvaziamento mental, com certeza, Elizabeth Sparkle não é a única que se sente mal na própria pele. Sob essa perspectiva, o filme faz um grande serviço à sociedade porque quem deve controlar nosso corpo é o nosso cérebro. Se induzimos nossa mente ao uso exagerado de substâncias e intervenções estéticas, em algum momento, a conta alta irá chegar e não será apenas uma conta monetária, mas uma conta que trará doença e/ou morte. Tendo em vista uma abordagem realista após assistir a essa ficção, a saúde mental deve estar em dia.







Ao fim, A Substância traz um sentimento de compaixão por Elizabeth Sparkle se cada espectador olhar profundamente a jornada dramática com todo o sofrimento provocado por sua obsessão e as faltas que a destruíram. Se há uma indústria que não tem pena de ninguém, essa indústria se chama Hollywood. Desde os tempos áureos do Cinema, grandes mulheres com suas belezas estonteantes já foram descartadas por grandes executivos, pelo simples fato de terem envelhecido e se tornado "esteticamente e comercialmente desinteressantes".



A questão do etarismo na indústria é real e complexa e permeia não apenas Hollywood mas todo o mercado de trabalho; desta forma, a mulher luta continuamente contra o machismo estrutural e as pressões de diversas naturezas que a considera um pedaço de carne comercial que deve ser atraente, bonita, sorridente e submissa. Isso não deve ser esquecido ao observar que a sociedade também é culpada pelas imposições estéticas e o culto à juventude.





 


Fotos cedidas gentilmente pela Imagem filmes para divulgação da crítica para Madame Lumière, imprensa credenciada

  #Remake #Horrorpsicológico #Terror #Suspense #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Ansiedade #Psicopatia #JamesMcAvoy Imperdível e perturbad...

 




#Remake #Horrorpsicológico #Terror #Suspense #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Ansiedade #Psicopatia #JamesMcAvoy

Imperdível e perturbador!



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 



É normal ouvir no cotidiano que há pessoas que têm aversão a receber visitas em suas casas, entretanto, também não é confortável ser uma visita nos dias atuais. Adentrar a casa de alguém pode ser muito agradável como um jantar com vinho entre amigos, mas também, nunca sabemos exatamente as intenções das pessoas, ainda mais as que acabamos de conhecer e/ou temos colegas em comum. O lamentável é que, com os desequilíbrios sociais da vida contemporânea, a socialização tem sido desafiadora e perturbadora.



Considerando as dificuldades da socialização, o ser humano tem atravessado uma série de incômodos naturais como a desconfiança e o medo de lidar com o outro. Com somos seres biopsicossociais, é esperado que haja interação em nossas vidas cotidianas mesmo que isso provoque certa preguiça em conviver com pessoas aborrecedoras. Mas, quais são os riscos de se permitir uma maior intimidade com o outro?  Até qual nível de abertura podemos confiar nas pessoas?






Tendo em vista a perspectiva acima, o terror social tem sido uma excelente estratégia do horror psicológico que, quando bem trabalhado em um filme, nos faz refletir sobre os riscos e limites da socialização. Ainda que levado a um patamar severo de periculosidade na ação dos sujeitos, esse tipo de abordagem traz elementos que mesclam o suspense, o horror e o humor, uma combinação assustadora que tira o público de um lugar mais fantasioso e fundamenta uma relação essencial com nossos piores medos e ansiedades. E no geral, o maior medo que deveríamos ter é lidar com o outro, já que pessoas são imprevisíveis.



Em Não Fale o Mal (Speak no Evil, 2024), remake Americano com roteiro e direção de James Watkins e protagonizado pelo talentoso James McAvoy, temos à frente um filme assustador que extrapola a manipulação social  de um casal anfitrião e tudo de mal que eles têm de oculto, colocando um casal Americano e sua filha em uma espiral de perigo, medo e morte.



Após se conhecerem em uma viagem de férias, Paddy e Ciara (James McAvoy e Aisling Franciosi) acompanhados com o filho Ant (Dan Hough) convidam Louise e Ben (Mackenzie Davis e Scoot McNairy) e sua filha Agnes (Alix West Lefler) para uma temporada em uma casa de campo nas montanhas. Como a maioria das primeiras interações em uma bela viagem, todos estavam abertos a conhecer o novo, lugares e pessoas, situação favorável para que Paddy, mais expansivo e sedutor, causasse uma impressão de simpatia, mesmo sendo exagerado. Logo mais, como Louise e Ben estavam atravessando uma crise conjugal e entediados com seu dia a dia, decidiram aceitar o convite.






É interessante notar a apresentação do  personagem de James McAvoy pois antecipa que, a maioria dos sociopatas, são bastante comunicativos e atraentes, a famosa "ter lábia e mel" para atrair suas vítimas. Como dono da família, somado ao fato do ator ter muito talento e experiência com personagens complexos, disfuncionais e perturbadores, ele vai demonstrando nuances comportamentais tóxicas que transitam entre o exagero, o mistério e a inconveniência, o que dá indícios de que não é confiável e transformará a vida das visitas em um traumatizante pesadelo.






O filme ganha bastante qualidade nas situações inconvenientes que deixam os hóspedes muito desconfortáveis, considerando que os tiram de uma zona de conforto do que é politicamente aceitável em interações sociais. Mesmo que cada pessoa tenha sua moralidade, no caso de Paddy, ele tem duas funções importantes no roteiro: atração e repulsa. Ao mesmo tempo que, Ben, por exemplo, se sente atraído pelo estilo vívido e audacioso de Paddy, por outro lado, Louise apresenta maior rejeição ao comportamento do anfitrião. Dessa forma, McAvoy tem um papel chave que sustenta e qualifica toda a narrativa.



Como surpresas boas acontecem em um excelente horror psicológico, principalmente quando teve investimento da Blumhouse, produtora expert em filmes desse gênero e com olho clínico para ter um elenco de primeira grandeza; a presença de Mackenzie Davis agrega muita qualidade dramatúrgica ao convívio entre casais e para criar tensões nos conflitos. Além de ela ter papel essencial nas cenas de ação violenta, em um papel de superação da mãe que faz de tudo para defender a família, Louise tem uma liderança natural na história, fazendo o contraponto com Paddy. Ainda que tomada pelo medo em diversas circunstâncias, é a personagem que ressalta o mal estar em permanecer ali e que enfrenta Paddy mais abertamente.







Com isso, ao lado de James McAvoy e Mackenzie Davis, o mal estar é um dos principais personagens de Não Fale o Mal. Ele surge em diversas cenas e, de maneira muito interessante, pode ser interpretado como algo que gera silenciamento e/ou dificuldades em como se expressar diante de uma situação incômoda. Assim, como superar o mal estar ao lidar e enfrentar o outro violento? Calar-se? Tentar o diálogo? Agir com a mesma violência? Nas cenas de finalização, entendemos melhor isso por meio da ação de Ant, uma criança ferida e traumatizada pela violência. 



De fato, para nós, como seres sociais, como reagir diante da violência, seja ela física, psicológica, social, traz um mal estar seguido de um instinto de sobrevivência, afinal, somos seres naturalmente violentos mas não queremos interagir com o Mal porque ele mostra o pior espelho da humanidade. 






Fotos: uma cortesia autorizada Universal pictures e assessoria para divulgação e crítica do filme.